domingo, 22 de março de 2015

Relato de parto da mãe da A.

Preciso começar este relato dizendo que meu parto foi incrível. Foi domiciliar, assistido, na água e muito intenso. Preciso dizer também que ele reflete o que EU decidi, junto com meu parceiro, e de forma nenhuma tem a intenção de substituir a SUA pesquisa para decidir o tipo de parto que é melhor para VOCÊ. Também é de nota que não sou mais mãe que ninguém, já que via de nascimento não quer dizer nada nesse quesito.

Continuando. Decidi que seria em casa antes mesmo de engravidar, após assistir ao documentário O Renascimento do Parto, porque só então descobri que isso era possível. Quando o teste deu positivo, começou a pesquisa. O marido reagiu com desconfiança quando manifestei minha vontade e assistimos ao documentário juntos. A reação dele foi muito boa – tinha a impressão de que parto era sofrimento, foi o que ele viu nas novelas. Mas quando viu que era possível rir durante o trabalho de parto, que não era uma urgência médica nem uma doença, a ideia pareceu boa. Chegamos num acordo e montamos a equipe que me assistiria: uma doula e duas enfermeiras.

As contrações começaram no dia 28 de janeiro (de 2014), por volta das 6 ou 7h da manhã. Íamos ao shopping comprar uma peça pra mangueira, necessária para encher a piscina, era só o que faltava pro parto. E quando o marido acordou, contei que estava sentindo algo estranho que eu achava serem contrações. Cronometrei enquanto tomava café, intervalos de 6 a 8 min. Liguei pra doula, pra que ela ficasse atenta e fomos pro shopping. Não queria ficar em casa, ia enlouquecer. Compramos a peça, almoçamos, vimos vitrines, fomos no supermercado. Então, no caminho pra casa, as contrações ficaram mais fortes. Pedi pra doula nos encontrar em casa, precisava de uma massagem. Quando ela chegou, eu já tinha desistido da massagem relaxante, queria pressão em alguns pontos específicos.

Ela contou os intervalos entre as contrações e disse que devíamos avisar as enfermeiras. Já estava em 5 min. Tudo parecia surreal. Finalmente minha filha estava chegando? Não, acho que não. E ficou o medo de que o TP não evoluísse.

Pedi boas vibrações a amigos no Facebook e ainda avisei a família no Whatsapp.

Fui tomar um banho quente. Uma das enfermeiras chegou e me examinou quando saí do chuveiro. Dilatação de 5 cm e a bolsa tensa, parecendo que ia romper a qualquer momento. Eu deveria me preparar para quando ela rompesse - porque tudo ia ficar mais intenso. Conversei com a bebê. Se ela tivesse pressa, podia romper a bolsa, e eu aguentava o "intenso". Se ela quisesse nascer empelicada, podia ficar quietinha e eu aguentava o TP, mesmo que ele fosse mais longo.

Meu excesso de controle não me deixou entrar na partolândia quando eu devia. As contrações eram exaustivas. Chorei no ombro do marido no nosso quarto após uma contração. Não vou conseguir. Ele me olhou, lógico que consegue, olha como você tá tirando de letra isso tudo.

Chorei mais tarde com a doula, após outra contração, também no meu quarto. Eu não consigo, é mais forte do que eu. E novamente as palavras de incentivo, e o lembrete de que tantas mulheres já fizeram isso antes, e esse é o seu corpo, deixa ele trabalhar.

Eu tentei deixar. Tentava me abandonar nas contrações. Imaginava meu corpo se abrindo, como uma rosa. Vocalizava pra ajudar. Repetia frases para me manter no momento.

Quando parecia que já não havia intervalo entre as contrações, fui pra água. Senti um alívio imenso, mas não durou muito. Saí da água. Deitei no quarto, abraçada com o marido. Mas eu não conseguia relaxar.

Andei pela casa. Voltei pra água. E então começou. Veio aquela vontade louca de fazer força e eu fazia. Não devia, não precisava, já nem lembrava o que tinha lido a respeito. Eu devia ter me entregado, demorei tanto pra me entregar. Fiz toda a força que me restava, acho que tinha pressa em confirmar se enfim minha bebê chegaria (sim, eu ainda tinha dúvidas). As enfermeiras me pediam pra ter calma, que não havia pressa. Alguém disse que eu estava fazendo força da forma errada. Me indicaram o ponto no corpo onde eu devia me concentrar.

Fiz mais força e nada. Desisti. Chorei e disse que não conseguia. Chorei tanto. As palavras de encorajamento voltaram. A fotógrafa ainda disse algumas coisas doces sobre a minha A. Ela estava chegando, não havia muito o que fazer. Alguém segurou minha cabeça e minhas pernas, numa posição em que finalmente relaxei. Não lembro de muita coisa a partir daí, porque enfim me entreguei. Fiz menos força quando a vontade veio. Fui no ponto certo. Meu corpo funcionou. Eu consegui. Primeiro, saiu a cabeça. A vontade de fazer força demorou para voltar. As enfermeiras falavam para eu colocar a mão, mas não queria tocar, queria ela por inteiro. E então veio tudo, a vontade, a força e a minha A.

Depois que a enfermeira a colocou nos meus braços, esqueci tudo, esqueci que tinha duvidado tanto. Que era o momento, que meu corpo faria tudo, que eu conseguiria.

Foram 15h de muitas dúvidas. E com ela nos meus braços, nasceu a mãe da A. Como eu consegui, meu Deus? Na minha cabeça, tanta coisa tinha ido mal. Com a A. nos braços, tentei rever essas horas todas e descobri como o parto muda a gente. Concluí que sou guerreira e muito corajosa, sim. Mas não por ter parido em casa ou sem anestesia. Sou guerreira e corajosa por ter enfrentado meus medos e vencido. Por ter aceitado como meu parto foi incrível. Por ter me aceitado.




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