sábado, 5 de novembro de 2016

Questões importantes

Oi, filha!

Faz muito tempo que não venho falar contigo. Bom, vamos combinar o seguinte: mamãe não tem a obrigação de vir aqui sempre, mas fará o possível para deixar registradas algumas questões que acha importante pra ti, tá bem? Para você refletir depois, e talvez conhecer melhor quem sua mãe foi.

Andam acontecendo muitas coisas, filha, e mamãe está cansada. Com burn out, parece.

O mundo do babywearing, no qual optei mergulhar em vez de mergulhar numa depressão, mostrou há algum tempo a sua face humana e portanto falha - pessoas invejosas, que falam mal das outras, nenhuma novidade, mas que eu não esperava nesse mundo. Achava que ser mãe tornava uma mulher automaticamente mais reflexiva e gentil. Só voltei a me encantar com esse mundo, o nosso mundo do carregar, quando resolvi me tornar consultora. Já te disse que vou ser consultora, filha? Acho que não. Logo vou fazer um curso e ter o treino formal, além de toda a pesquisa que fiz pra poder te carregar da melhor forma.

Junto com o curso, vieram amigas queridas, planos pro futuro. Voltei a me envolver nesse mundo, mesmo com você querendo andar e correr, em vez de vir pro meu colo ou pras minhas costas.

Com o babywearing, descobri a questão da apropriação cultural e de justiça social, num grupo de babywearing dedicado a revisar as ações das marcas, e em especial discutir questões éticas. Filha, eu não sabia. O privilégio branco, a opressão das minorias, as artimanhas usadas para descaracterizar a importância dessas discussões... Somos oprimidas por ser mulheres, e nunca se esqueça disso. Mas quando a cor da pele e a situação econômica entram em jogo, somos as opressoras. Você pode nunca ter agido dessa forma, filha, mas a cor da tua pele te coloca em posição privilegiada. Espero ter a oportunidade de conversar muito contigo sobre isso, mas não será agora.

Agora, depois de ver tantas mães brancas e/ou em posição privilegiada mostrarem-se cegas para a própria condição, deliberadamente escolherem silenciar as pessoas de cor numa discussão, ou apenas não tomar parte numa discussão sobre justiça social, sinto-me cansada. As pessoas são cruéis, meu amor. Parece ser inerente ao ser humano escolher o lado que o incomodar menos. Reclamar porque a manifestação vai fechar a Paulista e vai atrasar a volta dele pra casa.

Mamãe também é apaixonada por documentários, filha. Já te falei 30x do Renascimento do Parto e da Origem da Vida, não é? São lindos, vou sempre falar deles! Fico vendo esses documentários sobre o derretimento das calotas polares, o aquecimento global, o desmatamento. É tudo tão grande, filha! É tão maior e mais importante que a gente.

Mamãe hoje estava num workshop sobre alimentação vegetariana. Falamos dos impactos do consumo de carne no planeta. Mamãe não gosta de carne, nunca gostou, já te disse isso, né? Os hormônios, a criação desumana, os abatedouros. A desconexão entre a carne no prato, o animal e a morte. A desconexão entre as pessoas e o tempo absurdo que a mamãe passa online.

Desculpa, filha, hoje não vejo solução. Mamãe tá triste. As pessoas são crueis demais, a mamãe não tem forças pra quebrar o ciclo. Não hoje. E não sei como te proteger disso. Me ajuda, amor, a reconectar com o Universo, a (re)descobrir que a vida é mais que isso.

Fonte: Eleonora's Oil Paintings



Rito de passagem

Minha doula mencionou que o parto é um rito de passagem para a mulher. Sim, pode ser, se a mulher em questão abraçar esse evento. Se ela entregar o próprio corpo e as decisões a uma equipe e encarar o parto apenas como um obstáculo a ser superado, ela perde a oportunidade de se descobrir. A questão é que se descobrir dá trabalho e mexe com tudo. Quem em sã consciência optaria por abrir feridas sem saber como ou quando serão curadas?

(post aberto para ser revisado sempre que eu refletir sobre a questão)